Conselho de Medicina abre sindicância para apurar denúncia de médicos ‘quebra mão’ que atuam na rede municipal de saúde

Gíria é usada por servidores para designar ato de médicos que deixam de atender a população propositalmente

O Conselho Regional de Medicina vai abrir sindicância para apurar a conduta de médicos que atuavam nas UPHs (unidades pré-hospitalares) de Sorocaba e são suspeitos de fazer operações “quebra-mão”, prática apelidada pelos próprios funcionários da saúde para exemplificar a conduta de médicos que intencionalmente prestam atendimento mais moroso à população, agravando o caos da saúde pública em Sorocaba. A prática das chamadas quebradas de mão foi denunciada pelo vereador Péricles Régis (MDB), que durante ação de fiscalização na UPH da Zona Norte, recebeu denúncias de funcionários e até médicos que não concordavam com a postura de seus colegas. No começo do mês a Prefeitura já havia anunciado que abriu apuração através da Corregedoria do município e também vai apurar o teor da denúncia para punir responsáveis.

Em ofício encaminhado ao vereador, o Cremesp afirma que o foco da sindicância, que correrá em sigilo, estará na apuração de falha ético-profissional dos médicos. As faltas dos médicos são passíveis de sanções que vão de advertência à cassação do registro profissional. “Maus profissionais existem em todas as categorias, mas precisam ser punidos. É ainda mais sério quando trata-se de profissionais da saúde que fizeram um juramento de zelar pelo bem-estar de seus pacientes. Deixar de prestar atendimento de forma intencional é algo criminoso”, protesta o parlamentar.

O vereador fez a fiscalização em fevereiro após receber telefonemas de munícipes que reclamavam da demora por atendimento na UPH Norte. No local, em conversa com os servidores, foi informado que alguns plantões reúnem médicos que fazem poucos atendimentos de forma proposital, o que gera acúmulo de fichas à espera de atendimento na portaria. Segundo os funcionários, alguns médicos combinam de apenas um deles ficar atendendo. Os relatos de tais práticas foram denunciados e confirmados por auxiliares de enfermagem, enfermeiros e até por um profissional da medicina, que revelou já ter formalizado queixa junto ao Conselho Regional de Medicina, sem ter obtido qualquer resultado. Péricles também teve acesso a relatórios de atendimento por profissional onde verificou que num mesmo plantão, enquanto um médico chegou a atender 40 pacientes, outro atendeu apenas uma ficha durante todo o seu plantão. Além dos questionamentos enviados ao Executivo na forma de requerimento, Péricles fez uma representação junto à Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde e encaminhou a denúncias à Corregedoria do município e ao Conselho Regional de Medicina.

Em março a Prefeitura informou que a Corregedoria abriu apuração que poderá resultar na exoneração dos médicos envolvidos. O governo assumiu ter dificuldades em lidar com a questão, informando que sempre que um médico falta, o coordenador da unidade busca auxilio junto aos demais médicos concursados para realizar as coberturas, no entanto devido ao fato desses profissionais darem plantões em diversas localidades, a disponibilidade de cobertura fica reduzida. Além disso, a Prefeitura alega que existe dificuldade para conseguir cobertura de férias, licença prêmio, abonada e atestados médicos, ficando por vezes um número de profissionais abaixo do estipulado.

Apesar dos problemas estarem sendo investigados de forma retroativa, a Secretaria de Saúde informa que acredita que eles não se repetirão a partir de agora, já que as UPHs estão sendo administradas por meio de gestão compartilhada feita pelo Instituto Diretrizes e Banco de Olhos de Sorocaba, que pelo convênio são responsáveis por garantir o preenchimento total do quadro de médicos durante os plantões. Na resposta do requerimento, a Prefeitura alega ainda que além das faltas esporádicas, o quadro da UPH Norte tinha déficit de três médicos e a UPH Zona Oeste, dois médicos.

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